Mesmo sendo tarde, vale sempre a pena deixar aqui as minhas impressões sobre dois fenómenos da Música Portuguesa.
Campo Maior, 5 de Outubro de 2009
Não é a todos os concertos, recitais ou apresentações públicas que me fazem sair do meu lugar e da minha casa em Campo Maior. Porquê? Porque sei antecipadamente que não acontecerá o factor surpresa e o factor inovação. E foi precisamente isto o que aconteceu ontem à noite dia quatro de Outubro, em Elvas, no Auditório S. Mateus: SURPRESA e INOVAÇÃO!
Muitas vezes pensa-se que fazer CULTURA é fazer concertos e mais concertos, exposições e sei lá que mais coisas, mas ... NÃO! Fazer CULTURA, (com maiúsculas!), não é encomendar uns concertezecos e já está! Não! Isso não é CULTURA! CULTURA tem a ver com ARTE e não com negócio! Não existe cultura sem arte. E arte tem a ver com a criação, mas também com a recriação! E recriar é tão, quiçás mais, difícil do que criar. Criar é fácil. Difícil é INOVAR! Desculpem-me este parêntesis.
E foi o que aconteceu ontem no VI Festival de Música de Câmara de Elvas: RECRIAÇÃO e INOVAÇÃO ou INOVAÇÃO e RECRIAÇÃO!
É difícil, embora possível, existirem neste nosso pequeno universo norte-alentejano, dois Artistas com “A” maiúsculo! Se calhar corro o risco de exagerar, mas não vislumbro outros a quem possa chamar de ARTISTAS, talvez artistas. Faço-me entender?
Voltando ao concerto, que posso eu escrever? Talvez ... Só me ocorre uma palavra: BRILHANTE! E apetecía-me estar a escrever esta palavra vezes sem conta.
Jacinta Almeida, nome artístico, é neste momento a melhor cantora lírica portuguesa! Ponto final parágrafo. E venha quem vier dizer o contrário, então, faça o que fez ontem esta grande senhora do “Bel Canto”: cantar música popular tradicional, ainda que harmonizada superiormente, música semi-erudita, música erudita contemporânea, Zarzuela e Árias de Ópera tudo no mesmo recital é, no mínimo, “OBRA”! Acho, sem medo de me enganar, que é daquelas raras cantoras que é capaz de se atraver a cantar Fado, música árabe ou outra raridade qualquer e bem. A sua versatilidade é tão invulgar como é refinada a sua técnica vocal e musical. Os seus pianíssimos, cada vez mais claros e seguros, os seus ritardandos e accelerandos, as suas suspensões com o tempo justo, a sua excelente dicção (coisa rara até em grandes cantores), sabendo tirar partido de toda a sua potência vocal, encantaram uma plateia muito bem composta. Parabéns, Jacinta Almeida!
Como não há cantora sem acompanhante, (e que acompanhante!), que posso eu escrever sobre o pianista? Excelente? Brilhante? Técnica fluída e segura, ciente do seu “métier”? Que para além de um grande pianista, um grande músico? Conhecedor profundo de toda a linguagem interpretativa musical? Sim, que isto de acompanhar um solista não é nada fácil! Há todo um trabalho anterior e escondido, de estudo das obras quer a nível de técnica pianística como de técnica interpretativa que se tem que realizar. É necessário ler muito, não só música, mas também História da Música. Não basta sentar-se ao piano e tocar. Há todo um trabalho de investigação que se tem que fazer.
Sem medo de me repetir, tenho a certeza absoluta de que o Amadeu é um dos melhores pianistas (acompanhantes ou solistas) que já ouvi e vi. Porque não se limita a acompanhar, mas sim a ajudar e a complementar a solista. Apesar de todo o seu virtuosismo, sabe recatar-se quando a música a isso o obriga. E isto não é para todos os pianistas nacionais ou internacionais. Fiquei deslumbrado e maravilhado com a forma de tocar Mozart. Já há muito que não ouvia um Mozart tão bem tocado. Como o nosso querido e saudoso amigo Estebán Sanchez estaria feliz! Parabéns, Amadeu Oliveira!
Este Recital teve o privilégio de contar com a presença e colaboração do excelentíssimo senhor professor doutor José Pedrosa Cardoso. Sim! Ainda que impere uma grande amizade entre os músicos e o professor, é sempre um grande privilégio e uma grande honra poder ouvir os seus excelentes comentários. Parece-me que ficámos todos um pouco mais ricos e, (porque não?), mais cultos. Obrigado Professor!
Só três reparos.
A sala tem uma acústica demasiado seca, o que dificultou e dificulta o trabalho dos músicos. Com uns pequenos arranjos acústicos é possível transformar para melhor a acústica deste bonito auditório.
O segundo reparo vai para o técnico das luzes. Quando há intervalo acenda as luzes da plateia, quanto mais não seja para as pessoas poderem cumprimentar-se. Isto acontece por falta de um director de palco.
Quanto à falta de juventude ... É o normal! Lá virão algum dia!
Termino, felicitando a cidade de Elvas por esta brilhante organização.
Acho que a juventude estava toda à espera para comprar bilhetes para os concertos dos U2...do ano que vem
ResponderEliminarBilhetes com preço mínimo de 100 Euros. Qual é a sua opinião? Também é arte? Também é cultura? Negócio de certeza que é...não serão as três coisas?